As fabricantes chinesas de carros elétricos conseguiram uma façanha que está mudando o cenário automotivo mundial: oferecer veículos elétricos a preços acessíveis.
Essa estratégia agressiva de preços tem feito com que os carros elétricos chineses sejam competitivos até mesmo em mercados internacionais, onde impostos de importação costumam elevar o custo final.
Em muitos casos, esses veículos se destacam por terem valores similares ou até inferiores aos dos carros elétricos produzidos por marcas de outras regiões e até em comparação com carros a combustão.
O segredo dos carros elétricos baratos da BYD
A rápida expansão da marca BYD, uma das líderes do mercado de veículos elétricos, despertou a curiosidade dos fabricantes japoneses. Para entender o segredo por trás dos baixos custos de produção da BYD, o Departamento Econômico e Comercial do Japão Central organizou um seminário com a participação de 70 fabricantes de autopeças japonesas.
O objetivo era desvendar as estratégias que tornaram os carros elétricos chineses tão competitivos, explorando as tendências do mercado de veículos elétricos.
O estudo do BYD Atto 3 no Japão
O BYD Atto 3, conhecido no Brasil como Yuan Plus, foi o destaque do seminário no Japão. Esse modelo foi o primeiro carro da BYD a ser lançado no mercado japonês, em janeiro de 2023, com um preço inicial de 4,4 milhões de ienes (aproximadamente R$ 164.300). A análise do Atto 3 foi feita lado a lado com outros concorrentes importantes, como o NIO ET5 e o Tesla Model 3.
A desmontagem do Yuan Plus revelou a razão por trás dos preços acessíveis: a BYD mantém uma produção verticalizada, ou seja, fabrica a maioria dos componentes internamente. Isso elimina intermediários e reduz custos. Os japoneses ficaram impressionados, especialmente com a eficiência da produção de baterias.
A importância das baterias na estratégia da BYD
A produção de baterias é um dos fatores que mais impacta o preço dos veículos elétricos. A BYD é a segunda maior fabricante de baterias do mundo, com uma participação de 16,4% no mercado global, ficando atrás apenas da também chinesa CATL, que detém 37,1% do mercado. Essa liderança na fabricação de baterias permite que a BYD reduza significativamente os custos de seus carros, já que a bateria pode representar até um terço do valor total de um veículo elétrico.
Tecnologia avançada e integração de componentes
A estratégia da BYD de integrar vários sistemas em um único componente é outra tática para reduzir custos. Um exemplo é o eixo 8 em 1, que combina o motor, o inversor, o redutor e outros sistemas de tração em uma única peça.
Essa abordagem não apenas diminui o custo de produção, mas também reduz o número total de peças no veículo, facilitando a montagem e manutenção.
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O baixo número de peças utilizado nos carros da BYD chamou a atenção de especialistas japoneses, que tradicionalmente prezam por uma engenharia simplificada e eficiente. A marca conseguiu superar até mesmo a Tesla, conhecida por sua inovação tecnológica, no quesito simplicidade de produção.
BYD Dolphin: Produção interna quase total
Um exemplo notável da produção verticalizada da BYD é o modelo BYD Dolphin. Quase todos os componentes do carro são produzidos internamente, com exceção dos vidros, fornecidos pela também chinesa Fuyao, e dos pneus, que podem ser de diversos fabricantes.
Essa independência em relação aos fornecedores externos permite que a BYD controle melhor os custos e a qualidade dos seus produtos, além de ser mais ágil para se adaptar às mudanças do mercado.
O desafio das montadoras japonesas
A análise dos veículos elétricos chineses foi um sinal de alerta para as montadoras japonesas. Historicamente conhecidas por sua engenharia eficiente e capacidade de reduzir custos, as fabricantes do Japão agora enfrentam um desafio inédito.
O domínio chinês na produção de baterias e a capacidade de manter uma fabricação verticalizada estão mudando as regras do jogo.
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A Toyota, por exemplo, sempre foi cautelosa em adotar veículos elétricos como única solução para descarbonização. Essa postura se reflete nos números: apenas 1,5% das vendas globais da Toyota nos primeiros oito meses de 2024 foram de carros elétricos, totalizando 97.058 unidades de um total de quase 6,6 milhões de veículos vendidos. Enquanto isso, a BYD ultrapassou as tradicionais Nissan e Honda em vendas globais de veículos elétricos.
Lições aprendidas e o futuro do mercado
Os fabricantes japoneses estão determinados a aprender com a experiência chinesa e buscar formas de adaptar suas linhas de produção. A desmontagem do BYD Atto 3 revelou não apenas a eficiência em custos, mas também a alta qualidade dos componentes e a capacidade de integração da tecnologia de ponta em modelos acessíveis.
Essa análise está incentivando fabricantes como a Toyota a reconsiderar suas estratégias de produção e a investir mais em veículos elétricos.
A importância do acesso à tecnologia de baterias
O domínio chinês na produção de baterias é um ponto crucial para a competitividade no mercado de carros elétricos. A capacidade de controlar a produção das baterias permite que marcas como a BYD ofereçam preços mais baixos, ao mesmo tempo em que garantem a qualidade e a durabilidade dos seus veículos.
Para que as fabricantes japonesas consigam acompanhar essa tendência, será necessário investir fortemente no desenvolvimento e na produção de baterias, bem como em novas tecnologias de armazenamento de energia.
A rápida ascensão das fabricantes chinesas de veículos elétricos está mudando a dinâmica do mercado automotivo global. Com preços competitivos e tecnologia avançada, marcas como a BYD estão desafiando fabricantes tradicionais e obrigando-as a repensar suas estratégias.
A combinação de produção verticalizada, domínio no setor de baterias e uma abordagem focada na simplicidade e eficiência está fazendo com que os carros elétricos chineses ganhem cada vez mais espaço em mercados internacionais.
O futuro do mercado automotivo dependerá, em grande parte, da capacidade das montadoras de se adaptarem a essas novas realidades. O sucesso dos fabricantes chineses mostra que, para se manterem competitivas, as marcas tradicionais precisarão investir não apenas em tecnologia, mas também em eficiência produtiva e inovação.
Com isso, os consumidores ao redor do mundo só têm a ganhar, com mais opções de veículos sustentáveis e acessíveis disponíveis.
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